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Assessoria de Imprensa, 09/11/2020

As memórias e as contribuições de um dos mais destacados intelectuais do país, o economista Celso Furtado, foram recordadas, na sexta-feira (6/11), durante o programa Encontros Plurais "Os cem anos de Celso Furtado", iniciativa da Escola de Gestão e Contas do TCMSP. O jornalista Florestan Fernandes Jr. e o diretor presidente da Escola Superior de Gestão e Contas, Mauricio/Xixo Piragino receberam, em ambiente virtual, a professora adjunta de Ciência Política do Instituto de Ciências Sociais, da Universidade Federal de Alagoas, Lucileia Colombo, e o professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estácio de Sá, Glauber Carvalho, para discutir, além de questões sociais, o legado do único brasileiro indicado ao Prêmio Nobel de Economia.

Elaborador de uma obra inovadora composta por mais de 30 livros, Furtado foi responsável pela criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), no governo de Juscelino Kubitschek, e foi também ministro do planejamento do presidente João Goulart. Suas ideias sobre o desenvolvimento econômico e o subdesenvolvimento priorizaram o papel do Estado na economia, com a implantação de um modelo de desenvolvimento com corte pré-keynesiano.

Celso Furtado, que é muito homenageado, mas tem sua obra pouco conhecida, faz parte de um seleto grupo que pensou o Brasil no século passado. Nesse grupo também estão Caio Prado, Sergio Buarque de Holanda, Darci Ribeiro e Gilberto Freire. "Acho que Celso se destaca, assim como os outros que a gente citou nesse campo, como aquele que não só interpretou, mas também agiu em prol do campo universitário, seja quando ele vai para fora ser professor, seja internamente", opinou o professor Glauber Carvalho. Lucileia Colombo comentou então que “levantar essa memória é importante para um país e uma agenda de políticas públicas consolidada e densa”.

Sobre Furtado, afirma que o economista conseguiu unir intelectualidade e um arcabouço acadêmico e teórico em todas as suas obras. "Ele conseguiu trazer a tese da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) para a sua maior obra militante, eu digo, militante porque de fato ele agiu na região Nordeste, transpondo essa tese quase que binária entre o centro e a periferia. [...] A sua grande obra e toda a sua teoria conseguiu se consolidar quando ele pensou a região Nordeste, que de fato passou a receber as primeiras intervenções no sentindo de uma desigualdade em 1909, quando o governo federal começou a tratar o problema da desigualdade relacionado ao problema das secas. [...] A partir de 1950, com o próprio Furtado, é invertida um pouco essa linha de atuação no momento que ele diz que o problema do Nordeste não é a seca, pois existem regiões tão secas os mais e, no entanto, elas são produtivas. Para ele, o problema do Nordeste é a falta de planejamento. Aí que começa toda a história e toda a intervenção."

Ainda segundo Lucileia, a grande sacada de Furtado foi, "munido de um arcabouço intelectual e teórico, não só nacional, mas também internacional, porque ele já tinha uma bagagem teórica internacional por toda sua trajetória, começar a intervir na região Nordeste, criando uma agenda de políticas públicas", destacou. A professora conta que a criação da Sudende foi aprovada em dezembro de 1959, só 10 meses depois de sua criação. “Os conflitos eram muitos e Furtado conseguiu estabelecer esse consenso", completou.

Florestan lembra que nesse momento da história, o nome de Celso Furtado teve muita dificuldade para ser indicado politicamente. "Os deputados não queriam ou não aceitavam o nome dele, havia certa restrição, principalmente da elite, que ele faz até uma crítica, pois não está no nível correto para uma política desenvolvimentista e foi interessante todo esse processo porque, no fim, Juscelino Kubitschek consegue, através da própria articulação de Celso Furtado dentro do Congresso, convencer os deputados a aceitarem o nome dele", lembrou o jornalista.

Glauber Carvalho falou um pouco sobre o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, proposto por Celso Furtado enquanto Ministro do Planejamento durante o governo de João Goulart. "A ideia geral propunha quatro reformas: A reforma administrativa; a reforma bancária; a reforma monetária e a reforma agrária. Nesse ponto eu tenho a impressão que tudo se concentrou. [...] Quando entraram os militares, o PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo) trouxe, claro que não é da mesma forma, mas fez com que algumas reformas passassem de forma até mais tranquila, sob diversas formas de pressão, são elas, a reforma bancária, que é uma reforma necessária; a reforma administrativa, sem dúvida; a reforma monetária, que vai tentar reorganizar o processo das contas públicas e, obviamente, a única coisa que não saiu foi a reforma agrária, que ficou isolada. Acho que nesse ponto a gente pode dizer que teve um transplante ali, talvez tenha sido executado por mãos distintas algumas das reformas pelo menos preconizadas no Plano Trienal", explicou o entrevistado.

Celso Furtado pegou a edição do Ato Institucional nº 1 (AI-1). O economista foi cassado em primeira lista, perdendo seus direitos políticos. Glauber conta que a dificuldade disso só se estabilizou quando ele saiu do país e recebeu uma série de convites. "Isso só foi se estabilizar quando ele chegou à Sorbonne (Universidade de Paris) e foi ser professor. Essa foi uma nova etapa da vida dele."

Durante a conversa, Florestan Fernandes Júnior revelou detalhes da amizade de seu pai, Florestan Fernandes, com Celso Furtado e comentou o episódio de sua cassação no Brasil. "Eu sei que meu pai dizia uma coisa interessante, ele falava assim: 'Eu não sei porque os militares cassaram o Celso Furtado. Acho que não tinha ninguém com uma proposta mais capitalista do que o Celso Furtado. Ele queria fazer um capitalismo que desse certo, era uma chance de salvar o capitalismo no Brasil que eles perderam'. Era isso que lembro que meu pai falava dele", recordou.

Um conjunto de fatores, entre eles o cargo de embaixador da Comunidade Econômica Europeia, depois de Ministro da Cultura (com ideias de formação de polos de cultura e de cultura a ser estudada pelo seu víeis econômico, ou seja, a ideia da economia da cultura), de acordo com Glauber Carvalho, que fez com que um grupo internacional de pesquisadores e pensadores, capitaneado pelo professor Theotônio dos Santos, levassem o nome dele ao Nobel, "mas não foi escolhido", lembrou Glauber.

Celso Furtado parece ter sido pioneiro em diversas coisas pelo seu legado, garantiu Glauber Carvalho, por isso grande parte de suas contribuições e histórias estão catalogadas. "Ele falece em 2004 e o Centro Celso Furtado é formado em novembro de 2005. O Centro reuniu até ano passado (2019) a Biblioteca Celso Furtado, mas a biblioteca e os arquivos pessoais, provavelmente todas as cartas com Florestan e com outros pensadores do Brasil e do mundo, correspondências, documentos que furtado tinha a cópia foram doados pela viúva ao IEP - Instituto de Estudos Brasileiros da USP - e que brevemente vão estar disponíveis para todos os pesquisadores. Isso vai dar um salto, sem dúvida, nas pesquisas ou vai apoiar os que já pesquisam ele a complementar, encaixar uma série de coisas. [...] Tudo vai ser disponibilizado em breve em São Paulo a todos os pesquisadores, o que é uma ótima notícia", finalizou.

O evento ficará disponível para quem quiser assistir aqui:

 

Florestan Fernandes Jr., jornalista 
 

Mauricio/Xixo Piragino, diretor presidente da Escola Superior de Gestão e Contas do TCMSP

Lucileia Colombo, professora adjunta de Ciência Política do Instituto de Ciências Sociais, da Universidade Federal de Alagoas

Glauber Carvalho, professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estácio de Sá

 


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