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Assessoria de Imprensa

O aumento da busca por produtos e manifestações culturais em tempos pandêmicos, ainda que por meios virtuais, espelhou a medida da necessidade da arte como organizadora dos sentidos, proporcionando um respiro diante dos efeitos da crise sanitária. Em palestra on-line, realizada na sexta-feira (27/08), e transmitida pelas redes sociais da Escola Superior de Gestão e Contas Públicas (EGC) do Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCMSP), a cantora Mônica Salmaso, o cineasta Fernando Meirelles e o museólogo Marcelo Araújo ressaltaram o papel da arte dentro do atual contexto desafiador.

 

O encontro contou com a participação do diretor-presidente da EGC, Maurício/Xixo Piragino, e a mediação do coordenador de palestras da instituição de ensino, Valdir Buqui.

 

Diretor-geral do Instituto Moreira Salles (IMS), Marcelo Araújo destacou o papel de resistência da arte como enfrentamento à crise. “É um paradoxo como nesses momentos desafiadores a área da Cultura renasce e atua sempre com um vigor extraordinário. A articulação das instituições da sociedade civil na construção de políticas públicas para a Cultura é um exemplo disso. Ao lado das instâncias legislativas, resultou em um instrumento muito positivo que foi a Lei Aldir Blanc (Lei Federal 14.017/2020). Uma série de perspectivas muito construtivas para a área da Cultura e a continuidade das manifestações artísticas foram consequências dessa nova legislação”, disse o museólogo.

 

O Instituto Moreira Salles realizou, entre os meses de abril e dezembro de 2020, período mais crítico da pandemia, o Programa Convida, que financiou projetos de mais de 170 artistas, individuais e coletivos, de todas as regiões do Brasil. Os cerca de 800 trabalhos foram reunidos em uma plataforma virtual e estão à disposição no site da instituição. “Buscamos incentivar diversas áreas de criação artística, como fotografia, literatura, cinema, música e artes visuais, justamente no momento mais grave do isolamento social. O resultado foi um conjunto extenso de obras que constitui um documento muito significativo e precioso desse período. A partir de uma malha de conexões e afetos, o acervo é um representativo de questões da diversidade, identidade de raça e gênero e diferentes contextos sociais e culturais do Brasil contemporâneo”, enfatizou Araújo.

 

A cantora Mônica Salmaso, premiada intérprete paulistana, avaliou, que para além do entretenimento, a arte feita durante a pandemia atuou como um remédio, uma forma de cura coletiva. “É um motivo de orgulho para os artistas perceber o quanto a arte foi vital para todo mundo nesse período”, ressaltou. Destacou, também, que a reflexão que não pode sair de cena é a do papel do fazer artístico como ofício. “A arte com toda sua importância, beleza e nobreza é um trabalho que gira uma grande cadeia de profissionais e também a economia. No Brasil, talvez pela abundância e riqueza de suas manifestações culturais, ela é entendida como algo trivial, que nasce como banana. É quase feio falar da arte como trabalho”, afirmou.

 

Desde março de 2020, a artista tem divulgado em suas redes sociais vídeos da série Ô de casas, em que se apresenta com músicos convidados, a partir de gravações separadas, que com o trabalho de edição se fundem em um material só. “O que aconteceu foi que com o isolamento social essa foi a única via de encontro possível. Cada um gravava na sua casa e depois a gente juntava os vídeos. Foi bonito ver um músico, como o João Bosco, cantando na sua casa, eu na minha e ao mesmo tempo nós dois visitando a casa de outras pessoas. O Ô de casas não é um projeto profissional, mas organizacional e medicinal”, contou a cantora.

 

A série já reúne 168 vídeos, com participação de artistas como Leila Pinheiro, Chico Buarque e Dori Caymmi. Acabou se desdobrando, também, numa ação coletiva de visibilidade de trabalhos de bordado, em que profissionais desse fazer manual ilustraram com suas peças as canções apresentadas por Mônica e seus convidados. 150 bordados fizeram parte dos vídeos. “No microcosmo do Ô de casas percebi o quanto as redes sociais ampliaram o alcance da arte nesse momento de isolamento social. O meu público se misturou ao dos participantes e as apresentações chegaram a um número muito grande de pessoas”, contou a intérprete.

 

O cineasta Fernando Meirelles, indicado ao Oscar de melhor diretor, em 2004, pelo filme Cidade de Deus, ressaltou que a ampliação do alcance de público para o setor de audiovisual também foi evidente em tempos pandêmicos. “Há cerca de 10 anos 95% do cinema brasileiro era feito com dinheiro público e isso não acontece mais. Muitas plataformas de streaming passaram a produzir audiovisual fortemente. A partir do que foi anunciado oficialmente por duas dessas plataformas, podemos projetar, utilizando essa escala de proporção, que cerca de 500 projetos entre filmes, documentários e séries serão financiados no Brasil nos próximos dois anos. Nunca o cinema brasileiro teve um volume como esse de produção audiovisual”, revelou o diretor.

 

Segundo o cineasta, a pandemia antecipou o costume, que viria naturalmente com o desenvolvimento da tecnologia digital, de se assistir produtos culturais em ambiente virtual. “A tecnologia, que apesar de tirar da gente o prazer de assistir filmes em grandes salas, expandiu o alcance dos produtos audiovisuais. Houve um crescimento muito grande. Eu mesmo adquiri o hábito de assistir filmes no computador e nunca vi tanto filme como nesse período de isolamento social. Se nos cinemas o público alvo para um filme específico seria de vinte mil pessoas, nas plataformas de streaming esse número chega a três milhões. Dessa forma, os filmes de nicho estão sendo, também, muito beneficiados”, considerou Meirelles.

 

Mônica Salmaso contou que a vontade de produzir nesse momento ganhou muita força. “Estou furiosamente querendo trabalhar e a maioria dos artistas também está assim”, revelou a cantora, que lança ainda este ano, em formato vinil, dois de seus álbuns da carreira, Iaiá (2004) e Afro-sambas, seu primeiro álbum, gravado em 1995. Prepara, também, para 2022, um álbum em parceria com Dori Caymmi. Fernando Meirelles disse estar produzindo o roteiro de uma série sobre crise do clima, sob o ponto de vista adolescente, que será rodado o ano que vem nos quatro continentes.

 

Dentro da democratização da arte, impulsionada pelas redes sociais no contexto da crise sanitária, muitos profissionais da Cultura têm pensado em novas maneiras de remunerar seu trabalho, como a possibilidade de pagamento do público, via PIX, durante suas apresentações virtuais ao vivo. Mônica Salmaso reforçou a necessidade dessas iniciativas e da regulação dos produtores de conteúdo para monetização do ofício. Os três convidados destacaram, ainda, a importância do acesso gratuito de todos ao ambiente virtual.

 

“Precisamos ter esse caminho de consciência, olhar para isso tudo e pensar nos próximos passos. Tirar conhecimento do que aconteceu, elaborar os ocorridos e pensar na lição de casa que ficou. Seria imperdoável e imoral a possibilidade de sair da pandemia com o pensamento de que tudo não passou de um pesadelo. Não desejo isso pro Brasil. Não é possível que nosso país, com a cultura que produz, não se veja do tamanho que é”, desabafou Mônica Salmaso no encerramento do webinar.

 

 

O diretor-presidente da EGC participou do encontro

 

O coordenador de palestras da EGC realizou a mediação do webinar

 

A cantora destacou a importância de se pensar a arte como ofício

 

"Nunca o cinema brasileiro teve um volume de produção audiovisual como agora", disse o cineasta

 

O museólogo falou sobre o Programa Convida, iniciativa do IMS

 

O encontro virtual foi transmitido pelas redes sociais da EGC

 

 

 

 


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