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Carlos Yukio Suzuki¹
                   Valmir Bonfim²

O conceito básico de sustentabilidade envolve a consideração dos três elementos conhecidos como economia, sociedade e meio ambiente, assim sendo as técnicas de engenharia devem buscar soluções econômicas, de benefícios para a sociedade, sem degradar o meio ambiente.

 

 

Para o desenvolvimento econômico e social sustentável, deve-se buscar utilizar recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes, com preocupações na conservação do ecossistema e da biodiversidade, sem comprometer as gerações futuras.

Outro aspecto importante de soluções que consideram a sustentabilidade é a análise do ciclo de vida total da estrutura, que envolve as fases de projeto, seleção de materiais, construção, operação, manutenção e de preferência reciclagem dos materiais utilizados.

Dentro desse contexto, nos dias atuais a palavra reciclagem tem sido muito empregada, haja vista a grande preocupação com o meio ambiente e com o aquecimento global, assim sendo, o apelo ambiental passou a ser uma necessidade e, mais do que preservar os recursos naturais, a reciclagem pode ainda resultar em grande economia.

Certamente na pavimentação isso não poderia ser diferente. Há vários anos a reciclagem tem sido empregada cada vez mais, contemplando as diversas possibilidades de emprego nesse segmento, quer seja “in situ” ou em usinas.

A resolução CONAMA nº 307 de 2002, classifica os resíduos sólidos da construção civil passíveis de utilização na pavimentação, como tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, rocha, argamassas, telhas, pavimentos asfálticos, entre outros.

Na cidade de São Paulo, várias leis, decretos e especificações técnicas foram criadas, como o Decreto nº 48.075 de 2006, que dispõe sobre a obrigatoriedade da utilização de agregados reciclados, oriundos de Resíduos da Construção Civil (RCC), em obras e serviços de pavimentação das vias públicas, como o material fresado, também conhecido na literatura internacional como Reclaimed Asphalt Pavement (RAP).

Outro material que pode ser empregado na pavimentação é o pó de borracha, proveniente de pneus antes descartados de maneira inadequada no meio ambiente. A resolução CONAMA nº 258 de 1999 delibera a respeito da coleta e destinação final dos pneus descartados considerados inservíveis para reutilização ou sem possibilidade de reaproveitamento por meio de recapagem, recauchutagem e remoldagem.

Assim sendo, esses materiais podem compor um novo pavimento, atendendo todos os requisitos de suporte, em substituição de camadas convencionais de pavimentos.

Esses materiais são gerados todos os dias nos grandes centros urbanos. Somente na cidade de São Paulo, trata-se de um volume estimado de 16 mil toneladas de RCC todos os meses, sem contar o material proveniente de grandes demolições, como ocorreu no processo de revitalização da região central da cidade, onde foram demolidos os edifícios São Vito, Mercúrio e outros no entorno.

Além disso, em alguns meses, somente na cidade de São Paulo, foram gerados em torno de 40 mil toneladas de RAP, segundo a Superintendência das Usinas de Asfalto (SPUA), resultante dos contratos de recapeamento asfáltico no município. Grande parte desse material foi reciclado com espuma de asfalto em usina a frio do tipo KMA 200, e empregado como camada de base de RAP espumado em diversas vias no município. A espuma de asfalto é o estágio temporário do Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) com baixa viscosidade, que possibilita a homogeneização com os resíduos sólidos. Essa tecnologia vem sendo empregada no Brasil desde 1998, com muito sucesso.

Outro dado que impressiona vem da Associação Brasileira de Revendedores de Pneus, que estima que pelo menos 25 milhões de pneus sejam descartados todos os anos no Brasil.

Diante disso, a Figura 01 apresenta a seção tipo de um pavimento sustentável, considerando em todas as camadas materiais recicláveis.

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As espessuras das camadas ou até a introdução de uma ou mais camadas, depende do nível de solicitação de tráfego a que estão submetidas as vias. A bibliografia apresenta valores de módulos de resiliência e coeficientes estruturais desses materiais para a composição e dimensionamento estrutural do pavimento.

A eficácia dessas tecnologias já foi comprovada em diversas obras realizadas em todo mundo, inclusive no Brasil. O RCC britado como camada de sub-base foi aplicado em mais de 60 vias do município de São Paulo, juntamente com a camada de base de RAP espumado, solução essa que foi adotada também por diversas concessionárias de rodovias, como a Ecopistas e o Grupo CCR. A camada de rolamento com asfalto borracha também foi amplamente empregada em diversos municípios e concessionárias de rodovias, como o recapeamento no aterro do Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro e o recapeamento asfáltico na Via Anchieta pela Ecovias.

A adição de polímeros provenientes da borracha de pneus reciclados ao asfalto diminui a suscetibilidade térmica, aumentando a estabilidade do pavimento em altas temperaturas e diminuindo o risco de fraturas e trincamentos em baixas temperaturas. Além disso, confere resistência superior a 40% se comparado ao asfalto convencional.

As alternativas tecnológicas de materiais sustentáveis, pode, sem sombra de dúvidas, substituir camadas de pavimentos convencionais, resultando desempenho satisfatório, com viabilidade econômica, além de colaborar com o meio ambiente, diminuindo o descarte de resíduos sólidos nos aterros de inertes e minimizando a exploração de jazidas.

Referências Bibliográficas

BONFIM, V. Reciclagem de base em usina KMA 220 com espuma de asfalto na Rodovia Ayrton Senna. Revista Engenharia, Edição nº 618 – Ano 71, São Paulo, 2014.
______. Fresagem de Pavimentos Asfálticos. 3ª Edição. São Paulo: Exceção Editorial, 2011.

______. Aplicação de materiais reciclados na pavimentação. Palestra proferida no Workshop da Escola de Contas do Tribunal de Contas do Município de São Paulo no ano de 2016.

Wirtgen GmbH. Cold Recycling: Wirtgen Cold Recycling Technology. Windhagen, 2012.

Associação Brasileira de Revendedores de Pneus - ABRAPNEUS, n. 41, p. 4 – 7, Entrevista março/abril 2000.

 

Autores

1 Carlos Yukio Suzuki, é mestre em Engenharia de Transportes pela Universidade de São Paulo (1985) e doutor em Engenharia de Transportes pela Universidade de São Paulo (1992). Atualmente leciona na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Fora do âmbito acadêmico, atua como sócio diretor na Planservi Engenharia Ltda., empresa que concentra grande parte de suas atividades em projetos relacionados à área de transportes.

2 Valmir Bonfim, é engenheiro civil e mestre em engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Atua como sócio diretor da empresa DVS e faz parte do grupo de estudos de novas tecnologias na Escola de Contas do Tribunal de Contas do Município de São Paulo. A partir de 1995, vem conjugando suas atividades profissionais com o meio acadêmico. É autor do livro “Fresagem de Pavimentos Asfálticos”.


Os artigos aqui publicados não refletem a opinião da Escola de Contas do TCMSP e são de inteira responsabilidade dos seus autores.


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